IMI – De Imposto em Imposto, até ao Imposto Final
16 de Setembro, 2008
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Num tempo de profunda crise no sector imobiliário (com epicentro no mercado de crédito imobiliário dos Estados Unidos destinado às famílias de menores rendimentos) que se vem propagando a vários países, e que já obrigou os EUA, o mais acérrimo defensor da iniciativa privada, à iminente “nacionalização” dos dois gigantes do crédito imobiliário (Freddie Mac & Fannie Mae), através do seu controlo federal e da injecção de 200 mil milhões de dólares de dinheiros públicos, situação que não era vista desde a “Grande Depressão”, há quase um século.
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Ainda agora, quando escrevo estas linhas, se anunciava o colapso do quarto maior banco de investimento dos EUA, o Lehman Brothers, com uma dívida total que ultrapassa os 613 mil milhões de dólares, protagonizando a maior falência de sempre nesse país, que poderá criar uma reacção em cadeia com efeitos imprevisíveis na economia mundial, e logo de seguida a Reserva Federal norte-americana é também obrigada a salvar a American International Group (AIG) da bancarrota injectando 60 mil milhões de euros na AIG, numa tentativa de evitar a falência da maior seguradora do Mundo.
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Convém não esquecer que grande parte dos líderes das empresas que entraram ou estão em vias de entrar em colapso financeiro nos Estados Unidos recebeu bónus entre 1 e 10,6 milhões de dólares pelos objectivos “alcançados” no ano passado, talvez para premiar o facto de terem provocado uma crise financeira sem precedentes e o crescimento vertiginoso do desemprego.
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Num tempo em que até José Sócrates já admitiu, em Julho deste ano, que «o IMI (Imposto Municipal Sobre Imóveis) tornou-se um sorvedouro de recursos familiares», que «as famílias estão ameaçadas e sofreram um enorme impacto nos seus orçamentos pela subida dos juros e combustíveis» e que «é preciso fazer alguma coisa para reduzir os custos com a habitação», tendo para o efeito o Governo aprovado um conjunto de medidas para limitar o aumento do IMI e alargar os prazos de isenção desse imposto (é certo que ainda a carecer de aprovação do Parlamento).
. Num tempo em que, em Portugal: |
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o diagnóstico mais recente confirma uma situação muito preocupante e que configura que a crise que o sector imobiliário atravessa não é transitória mas estrutural;
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quase uma em cada três famílias tem encargos com empréstimos para a compra ou reconstrução de habitação própria permanente;
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mais de 80% da totalidade do crédito concedido às famílias é para a compra de habitação;
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desde que iniciou o seu ciclo de subida, em Setembro de 2005, a Euribor a seis meses já subiu 136%, passando de uma média de 2,16%, o valor mais baixo de sempre, para os actuais 5,202 (em finais de Agosto), o valor mais elevado em oito anos;
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muitas famílias, têm no seio do seu agregado, problemas de desemprego, aumentos de salários limitados, acesso nas carreiras condicionados, classificações por atribuir que retiram progressões e prémios.
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É neste mesmo tempo, que há municípios do país, designadamente o de Coruche, a aprovar e a manter as Taxas do Imposto Municipal Sobre Imóveis (IMI) em 0,7 – 0,4 (valores máximos de acordo com proposta do Governo), sem ter em linha de conta a conjuntura que vivemos, nem o facto de o Governo já ter aprovado medidas para travar o aumento do IMI, designadamente a redução da taxa máxima, de 0,8% para 0,7% nos prédios não avaliados, e de 0,5% para 0,4% para os prédios já avaliados, e o alargamento do período de isenção: de seis para oito anos nas casas avaliadas até 157.500 euros, de três para quatro anos nas habitações entre 157.500 e 236.250 euros (valores superiores a esse não têm isenção).
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É perfeitamente evidente que se nota aqui que é mais fácil ao Governo responsabilizar as autarquias pelo aumento da carga fiscal do que ele próprio dar o exemplo e baixar os impostos da sua responsabilidade, designadamente o IRS ou o ISP (Imposto sobre Produtos Petrolíferos).
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No entanto, não posso deixar de concordar que se limite o aumento do IMI, pois acho desajustado o valor cobrado anualmente.
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Não será certamente com os municípios a aprovarem, para 2009, taxas máximas de IMI de 0,7-0,4, procurando a todo o custo manter o nível de evolução dessa receita, mesmo que obtida à custa da crise de grande parte das famílias e do sector imobiliário, que se aliviará a pressão sobre as famílias e empresas que estão já altamente endividadas e à beira do abismo.
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NOTAS:
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1.
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Segundo dados fornecidos à Lusa pelo ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais Vasco Valdez, as receitas do Imposto Municipal sobre Imóveis aumentaram perto 50 por cento entre 2003 e 2007, para mil milhões de euros.
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2.
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Segundo fonte da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), a receita do IMI cresceu 10,8 por cento de 2006 para 2007.
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3.
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Segundo dados da Câmara Municipal de Coruche, a receita do IMI do município cresceu 9 por cento de 2006 para 2007.
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Notícia publicada no Jornal Mais Região |
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